No contexto do Setembro Amarelo, mês de conscientização sobre a prevenção ao suicídio, a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE) chama a atenção para o papel do atendimento emergencial em casos de lesões autoprovocadas voluntariamente, ou tentativas de suicídio. De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), o número de internações por esse motivo cresceu significativamente nos últimos anos. Em 2023, foram registradas 11.502 internações no SUS relacionadas a lesões em que houve intenção deliberada de infligir dano a si mesmo, um aumento de mais de 25% em relação aos 9.173 casos registrados em 2014.
“Em geral, o médico emergencista é quem presta o primeiro atendimento a esses pacientes, e seu papel é fundamental. Além de tratar as lesões físicas, ele atua na estabilização do paciente e no encaminhamento para os cuidados necessários, inclusive relacionados à saúde mental,” afirma Camila Lunardi, presidente da ABRAMEDE. A especialista destaca que o aumento das internações reforça a importância de capacitar os profissionais de emergência para atenderem com rapidez e eficiência, além de promoverem um acolhimento adequado em situações de grande fragilidade emocional.
Embora subestimados, segundo a ABRAMEDE, em função de possíveis subnotificações, registros inconsistentes e limitações no acesso ao atendimento em algumas regiões, a evolução dos dados de internação por tentativas de suicídio revela uma tendência de crescimento constante. Os números mostram que, a partir de 2016, houve uma oscilação com leve queda em relação aos dois anos anteriores, mas o número voltou a subir em 2018 (9.438) e alcançou seu pico em 2023.
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De Norte a Sul – A análise regional das internações por lesões autoprovocadas revela variações entre os Estados brasileiros, com a identificação de um crescimento alarmante no número de casos em alguns deles. Alagoas se destaca com o maior aumento percentual de 2022 para 2023, registrando um salto de 89% nas internações, embora o número absoluto ainda seja baixo, passando de 18 para 34 casos. A Paraíba e o Rio de Janeiro também chamam a atenção, com aumentos de 71% e 43%, respectivamente. Por outro lado, estados como São Paulo e Minas Gerais, apesar de registrarem números absolutos elevados — 3.872 e 1.702 internações, respectivamente, em 2023 —, tiveram aumentos percentuais menores, de 5% e 2%.
Em contraste, alguns estados apresentaram reduções expressivas no número de internações no último ano. O Amapá lidera com uma queda de -48%, seguido por Tocantins (-27%) e Acre (-26%). A Região Sul, por sua vez, enfrenta uma tendência preocupante de aumento nas internações. Santa Catarina apresentou um crescimento de 22% nas internações entre 2022 e 2023, enquanto o Paraná teve um aumento de 16%. O Rio Grande do Sul também viu um aumento de 33%.
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Perfil demográfico – O perfil dos pacientes internados por lesões autoprovocadas revela uma diferença significativa entre os sexos. Entre 2014 e 2023, observa-se um aumento tanto no número de internações de homens quanto de mulheres, com um crescimento mais acentuado no público feminino. Em 2014, foram registradas 3.390 internações de mulheres, número que subiu para 5.854 em 2023. Já entre os homens, o total de internações passou de 5.783 em 2014 para 5.648 em 2023.
Em termos de faixa etária, o grupo de 20 a 29 anos foi o mais afetado em 2023, com 2.954 internações, seguido pelo grupo de 15 a 19 anos, que registrou 1.310 casos. Os números ressaltam a vulnerabilidade dos jovens adultos e adolescentes, que juntos representam uma parcela significativa das tentativas de suicídio. Já as internações de pessoas com 60 anos ou mais somaram 963 casos em 2023. Outro dado relevante é o aumento das internações entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, com 601 registros em 2023, quase o dobro do observado em 2011 (315 internações).
Para a ABRAMEDE, embora o atendimento inicial tenha um foco técnico, é importante que a abordagem inclua também a identificação de sinais de vulnerabilidade emocional, com o objetivo de oferecer suporte integrado. “A resposta rápida e humanizada pode fazer a diferença no prognóstico desses pacientes e ajudar na prevenção de novos episódios. Durante o Setembro Amarelo precisamos também reforçar a importância da preparação das equipes de saúde para lidar com esses casos”, disse Camila Lunardi.
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