POLÍTICA

Pesquisa analisa como pensam os brasileiros sobre as mudanças climáticas

Um estudo da Escola de Relações Internacionais (FGV RI) aponta como pensam os brasileiros sobre as mudanças climáticas. Entre os resultados, nota-se que na sociedade brasileira há forte consenso em relação às crenças segundo as quais a mudança do clima existe e é causada por humanos; no entanto, a população encontra-se polarizada a respeito da crença na severidade da crise climática: quase metade dos entrevistados expressa ceticismo em relação a isso (44%). Esses indivíduos duvidam que a mudança do clima tenha efeito negativo intenso sobre a sua vida.

Os autores do estudo, Matias Spektor, professor titular da FGV RI; Guilherme Fasolin, doutorando da Universidade de Vanderbilt (Estados Unidos) e pesquisador associado à FGV RI; e Juliana Camargo, professora agregada da FGV RI, apresentam abaixo as principais conclusões sobre o Brasil: 

  • O fator que mais determina a adesão da população às três crenças é o consenso científico. A percepção de que os cientistas possuem um diagnóstico comum sobre a mudança do clima é o que mais influencia a população a acreditar. 

  • O principal fator por trás da descrença na mudança do clima (ceticismo climático) é o grau de individualismo dos cidadãos. Quanto mais individualista, mais descrente é o brasileiro. Individualismo é um perfil psicológico marcado pela busca da autonomia pessoal e pela desconfiança em relação a soluções coletivas para os problemas sociais.   

  • A pesquisa ainda mostra que o ceticismo climático ocorre tanto à direita quanto à esquerda do espectro político. Isso é diferente do que ocorre nos Estados Unidos e na Europa, onde a descrença está concentrada em cidadãos de direita. 

  • O ceticismo a respeito da severidade da crise climática é mais disseminado no Brasil do que em países vizinhos, como Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México e Peru. 

Implicações do Estudo para o Brasil 

A pesquisa tem implicações para autoridades públicas, agentes do setor privado e para ativistas da sociedade civil organizada porque as três crenças definem em grande medida o comportamento político dos cidadãos.  

Embora a maioria absoluta da sociedade brasileira acredite que a mudança do clima existe e é causada por humanos, a severidade de seus efeitos não é consenso. Isso, por sua vez, abre amplo espaço na opinião pública brasileira para o negacionismo. 

O negacionismo climático no Brasil possui campo fértil não apenas à direita do espectro político, mas também à esquerda. Um resultado positivo do estudo, no entanto, é que tanto cidadãos de direita quanto de esquerda podem apoiar políticas pró-clima, o que não ocorre em outros países do mundo. Os alvos mais fáceis do negacionismo climático são os cidadãos mais individualistas, ou seja, aqueles que duvidam de soluções coletivas para problemas sociais, suspeitam que o estado não resolverá seus problemas e tendem a contar apenas consigo mesmos. Isso é preocupante numa sociedade com níveis baixos de confiança interpessoal e nas instituições públicas.  

Para comunicar mensagens pró-clima aos cidadãos mais céticos é preciso ressaltar o papel do mercado e da iniciativa privada na busca de soluções para a crise climática. Para que essa mensagem seja crível, também é preciso dar voz a fontes de informação pró-clima que possuam autoridade moral junto a essa fatia da população, tais como empresários, ruralistas e operadores do mercado financeiro.    

Metodologia 

A pesquisa foi realizada por coleta de dados através da metodologia de survey em sete países responsáveis por 80% das emissões de CO2 da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México e Peru). A amostra incluiu 5.038 respondentes de amostras nacionalmente diversas. 

– FGV

Redação

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