MEIO AMBIENTE

Pescadores em vila da Bahia tornam-se “reféns do petróleo” e temem passar fome

Com o derramamento de óleo que continua chegando no Nordeste, eles não conseguem vender produtos e temem comer mariscos e peixes contaminados
Ficar sem comer por algumas horas pode ser difícil. Mais difícil é imaginar uma situação de escassez de alimento, com a fome rondando o dia-a-dia por tempo indeterminado. Pois esse tipo de pensamento não sai da cabeça dos moradores de Barra de Serinhaém, um tranquilo balneário que fica na cidade de Ituberá, ao sul de Salvador, na Bahia. Serinhaém, em tupi-guarani, significa “viveiro dos siris”.
O petróleo continua chegando e a contaminação acontece sempre da mesma maneira: pequenas manchas pretas aparecem na areia da praia, na maré baixa. Até que surgem manchas maiores, do tamanho de tijolos, quando não uma mancha maior, que toma conta de quase toda a extensão da areia da praia, ou cobre os recifes de corais perto da costa e invade os trechos de mangue. Depois da destruição, manchas menores continuam a aparecer.
A vila de pescadores de Barra de Serinhaém já está nessa situação há mais de um mês. No dia 28 de outubro, a grande mancha chegou. A população, que já estava acostumada a catar as “moedinhas” de petróleo, precisou encarar sozinha, sem luvas, botas e máscaras, toda a lama preta, viscosa e repleta de metais pesados e gases venenosos contidos no petróleo cru.
Até o dia 14 de novembro, quando o Greenpeace Brasil esteve na vila, as marisqueiras e pescadores já haviam recolhido entre 50 e 60 toneladas de petróleo. O óleo foi levado embora pela prefeitura de Ituberá e, graças à falta de informação de órgãos estaduais e federais, o destino de todo o petróleo recolhido no Nordeste ainda é incerto.
Estamos limpando o petróleo que chega nas nossas praias todos os dias, de sol a sol. Somos escravos do óleo. Uma coisa é ser voluntário por um ou dois dias. A outra é limpar a praia por um ou dois meses, sem parar. O pescador deixou sua rotina de pescar o peixe, o camarão, o siri, o aratu, de forma artesanal, sem agressões ao meio ambiente, para pescar o petróleo”, diz o pescador Gileno Nascimento da Conceição, de 41 anos.
Depois dessa tragédia ambiental, vem a tragédia social: os pescadores não conseguem vender seus produtos – nem mesmo o pescado que foi congelado antes da chegada das primeiras manchas.
Resta a eles comer o que foi pescado antes do crime ambiental. Os freezers da comunidade já estão ficando vazios. Apesar da existência de grande variedade de frutas na vila, não há hortas comunitárias e as fazendas da região são desertas e improdutivas. Sem ajuda externa, a fome parece iminente.

Greenpeace

 

Redação

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