O cão caju e a consciência na proteção dos animais
Prof. Dr. Marcos Traad – Zootecnista, Gestor Público
Todos acompanharam o caso do cão Caju, desaparecido após um acidente de trânsito em Curitiba. Em meio àquela situação de pânico, quando o veículo onde se encontrava capotou, o animal fugiu em busca de segurança. O cão, em desespero, acionou o seu mecanismo de sobrevivência, até então numa espécie de “repouso”. Constata-se, inicialmente, que nós temos agido para a humanização dos animais, ainda que de forma inconsciente.
Foram dias de angústia e buscas incansáveis ao Caju. Milhares de pessoas envolvidas através dos veículos de imprensa e, principalmente pelas redes sociais. O desfecho poderia ter sido pior. No entanto, depois de alguns dias ele foi localizado. Agora, para a alegria de todos, voltou ao seio da sua família.
Lamentavelmente, milhares de animais desaparecem dos seus lares todos os anos. Por conta disso, o fato em si, não deveria ter tomado a proporção que tomou, não fosse pelas circunstâncias em que ocorreu.
Assim, eu penso que devamos aproveitar e refletir sobre o que envolve a guarda de um animal de estimação de qualquer espécie. Devemos buscar mais racionalidade para nortear a nossa capacidade de decidir. Sim, pois quando tomamos decisões apenas considerando o nosso lado emocional, esquecemos que teremos mais um ser convivendo conosco e temos que estar preparados para darmos a ele tudo aquilo que é necessário para o seu bem estar.
Também é preciso consciência, com: a crueldade no tráfico de animais, a irresponsável introdução de espécies exóticas nos diferentes biomas, as condições de maus tratos às vezes verificadas nos criatórios clandestinos, entre outras, constatando que muito desta responsabilidade se deve aos que agem pela emoção ao “adquirir” um animal. Quando as crianças pedem, os pais atendem. Transformam assim o animal numa espécie de brinquedo, sem a devida percepção do valor desta vida que fará parte do seu dia a dia, muitas vezes por longos anos.
Abrigos superlotados, o comércio sem o devido controle de origem e destino, a inconsequente manutenção de animais sem castração, a guarda de espécimes silvestres exóticas ou não, são alguns dos fatores que têm contribuído para o caos que presenciamos. O resultado é evidente: muitos animais vitimados pela nossas mãos.
Quando lançamos o projeto da Rede de Proteção Animal de Curitiba (2009), elaborado com a participação de muitos atores, mediados pelo Conselho Municipal de Proteção Animal (Comupa), procuramos fazer com que as suas ações não fossem deixadas de lado com as naturais trocas de gestão no município. É uma atividade que passou a ter o seu próprio orçamento, conduzida desde então por um Departamento ligado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Talvez este seja um dos legados mais importantes, tanto para que o poder público continue fazendo a sua parte, quanto para que a sociedade possa continuar contribuindo em melhorar sempre e tomando conhecimento, de forma transparente, dos investimentos que são feitos.
Eu tenho muito orgulho de ter coordenado este projeto, junto com todos os que fizeram a diferença para a sua implementação. Tenho certeza que muito ainda há que ser feito, de forma racional (e continuaremos contribuindo), principalmente se conseguirmos fazer com que a consciência cidadã das nossas ações, seja sempre o ponto crucial para o maior respeito e ética com os animais do planeta.