EMPRESAS E EMPREENDEDORES

Metade das grandes indústrias não consegue realizar investimentos planejados, mostra pesquisa

As dificuldades de recuperação da economia frustraram os planos de investimentos das grandes indústrias. O número de empresas que fez algum tipo de investimento em 2018 foi de 75%, seis pontos percentuais abaixo dos 81% que planejavam investir.

Entre as empresas que investiram, metade (51%) não conseguiu realizar os projetos como planejado. Dessas, 38% realizam os investimentos apenas parcialmente, 9% adiaram os projetos para 2019 e 4% cancelaram ou adiaram para depois de 2019. As informações são da pesquisa anual Investimento na Indústria, divulgada nesta sexta-feira, 14 de junho, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). 

“A frustração dos planos de investimento em 2018 deve-se à decepção com a retomada da economia. Em particular, o crescimento da demanda ficou abaixo do que se esperava, especialmente por causa do elevado desemprego. Além disso, as incertezas internas e externas que contaminaram boa parte do ano passado também trouxeram riscos ao investimento”, afirma o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. “É preciso considerar também que a maior parte dos investimentos é financiada com capital próprio das empresas. Como elas estão com situação financeira mais debilitada do que em anos anteriores, o investimento ficou prejudicado”, acrescenta Castelo Branco. 

O economista destaca que a recuperação do investimento é fundamental para a retomada do crescimento sustentado. “O investimento em uma nova fábrica, ou nova linha de produção gera muito mais emprego do que a reativação de uma máquina parada. A geração mais robusta de empregos será capaz de aumentar a renda e o consumo. Isso estimula novos investimentos e realimenta o ciclo virtuoso do crescimento”, afirma Castelo Branco.

O levantamento mostra que, entre as empresas que investiram, a maioria (56%) destinaram recursos para a continuação de projetos anteriores e 44% aplicaram em novos projetos. O principal objetivo dos investimentos no ano passado foi a inovação: 53% das empresas aplicaram na melhoria ou na modernização dos processos produtivos e em novos produtos. Dessas, 36% investiram na melhoria dos processos produtivos, 13% buscaram a introdução de novos produtos e 4% aplicaram em novos processos de produção. Além disso, 28% investiram no aumento da capacidade de produção, o maior número registrado desde 2012.

A participação dos bancos privados no financiamento dos investimentos das indústrias de grande porte aumentou de 8% para 13% no ano passado. No mesmo período, a fatia dos bancos públicos de desenvolvimento recuou de 10% para 7%. “Enquanto a participação dos bancos comerciais privados foi recorde, a dos bancos oficiais de desenvolvimento foi a menor da série que começou em 2010”, diz a pesquisa. Conforme o levantamento, 75% dos investimentos feitos em 2018 foram financiados pelo capital próprio das empresas, o mesmo percentual de 2017 e semelhante à fatia de 72% registrada em anos anteriores. 

PLANOS PARA 2019 – As expectativas para este ano são positivas. Oito em cada dez indústrias de grande porte planejam investir em 2019. O número é praticamente igual aos 81% registrados no ano passado, mas está muito acima dos 67% de 2017 e dos 64% de 2016. 

Os empresários dizem que a expectativa de crescimento do consumo e os avanços tecnológicos estimularam a intenção de investimentos para este ano. Entre as indústrias que pretendem investir, 57% afirmaram que a perspectiva de aumento da demanda motivou os projetos de investimentos. Fatores técnicos, como tecnologia, mão de obra e matéria-prima disponíveis, foram estímulos para 41% das empresas.

A pesquisa mostra ainda que o excesso de regulação e de burocracia e a falta de recursos financeiros interferiram nas decisões de investimentos para este ano. Mais da metade (51%) das indústrias dizem que os recursos financeiros desestimularam os planos. 49% apontaram a regulação e a burocracia como fatores que atrapalharam a disposição para investir.

EFICIÊNCIA E COMPETITIVIDADE – O principal objetivo das empresas que pretendem investir em 2019 é a melhoria dos processos produtivos, o que demonstra a preocupação das empresas com a eficiência e a competitividade. A melhoria dos processos produtivos ficou em primeiro lugar, com 36% das assinalações. Em seguida, com 22% das respostas aparece o aumento da capacidade instalada e, em terceiro lugar, com 17% das menções, a introdução de novos produtos. 

“Diante da nova revolução industrial, a inovação tem papel importante para as empresas. A capacidade de inovar é que determinará quem fica com as portas abertas e quem vai desaparecer neste ambiente de crescente pressão tecnológica e de sofisticação de mercado”, avalia Flávio Castelo Branco.

Os investimentos neste ano devem se concentrar na compra de máquinas e equipamentos. Essa opção obteve 59% das menções das empresas que têm planos para investir. Em segundo lugar, com 18% das respostas, aparece a compra de novas tecnologias, como automação e tecnologias digitais, e, em terceiro, com 6% das assinalações, os empresários apontaram a melhoria da gestão do negócio. 

Neste ano as indústrias brasileiras pretendem investir especialmente para conquistar o mercado interno. O percentual do investimento voltado totalmente ou principalmente para o mercado doméstico alcançou 67%, o mesmo registrado em 2018. Os investimentos destinados exclusivamente ao mercado externo passaram de 7% em 2018 para 8% neste ano. A CNI avalia que a isso é resultado da baixa demanda interna e das incertezas no mercado externo. 

Além disso, a pesquisa mostra que 74% das indústrias brasileiras de grande porte não têm investimentos produtivos no exterior e nem pretendem ter. Outras 13% não têm, mas pretendem ter. Entre as 14% de empresas que têm investimentos produtivos no exterior, 8% pretendem manter os projetos e nenhuma planeja reduzir ou vender os ativos em outros países. 

Esta edição da pesquisa Investimentos na Indústria foi feita 24 de janeiro e 15 de abril com 334 indústrias de grande porte, que têm 250 ou mais empregados. 

CNI

Redação

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