Medidas de distanciamento menos rígidas podem agravar a segunda onda de Covid-19 no Brasil
Estudo divulgado pelo Ipea aponta os riscos do relaxamento das medidas de distanciamento físico e da falta de parâmetros para a flexibilização das medidas no Brasil
O enfrentamento da pandemia de Covid-19 no Brasil pode se tornar um desafio ainda mais complexo caso estados e municípios não imponham medidas mais rigorosas de distanciamento físico e não adotem critérios claros, objetivos, transparentes e abrangentes para o relaxamento das medidas. Colapsos como o observado na cidade de Manaus nas últimas semanas poderão se repetir em outras cidades brasileiras. O alerta está no estudo A Segunda Onda da Pandemia (Mas Não do Distanciamento Físico): Covid-19 e políticas de distanciamento social dos governos estaduais no Brasil, publicado nesta sexta-feira (22) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
De acordo com o documento, a segunda onda não tem sido acompanhada de uma segunda rodada de medidas rigorosas de distanciamento físico, o que amplia os riscos de contágio e a pressão sobre os sistemas de saúde. Entre os meses de abril e dezembro de 2020, o grau de rigor das medidas de distanciamento físico no país diminuiu de 6,3 para 2,9 (-54%) – em uma escala de 0 a 10. No mesmo período, o número médio de novos óbitos aumentou de 1,0 para 3,1 por 1 milhão de habitantes.
A crise sanitária observada no estado do Amazonas nos últimos dias – com o aumento substancial do número de casos de Covid-19 e o esgotamento da capacidade de atendimento hospitalar – demonstra a importância da adoção preventiva de medidas de distanciamento. “O caso do Amazonas indica que medidas rígidas de distanciamento acabam, em alguns casos, sendo impostas como um último recurso, ao invés de serem adotadas de forma preventiva”, ponderou o autor da pesquisa, o economista Rodrigo Fracalossi, do Ipea.
Fracalossi chama a atenção para o risco de a situação se agravar em outras localidades, devido aos baixos níveis de distanciamento físico observados nos últimos meses na maior parte do país. Outros dois fatores que aumentam a probabilidade de agravamento da crise são a desmobilização de hospitais de campanha ao longo dos últimos meses – aumentando a pressão sobre os sistemas de saúde – e o fim do auxílio-emergencial, que implica para muitos a necessidade de voltar a trabalhar presencialmente.
Na avaliação do autor do estudo, a adoção de medidas de distanciamento de forma preventiva, bem como a criação de parâmetros claros para determinar seu grau de rigor (número de novos casos, óbitos e disponibilidade de leitos, por exemplo), poderia reduzir os impactos negativos da segunda onda: “Há evidência de que medidas legais de distanciamento são necessárias para que se alcancem níveis elevados de distanciamento físico. Contudo, é importante que decisões sobre tais medidas sejam baseadas em critérios objetivos e previamente estipulados, como o crescimento do número de novos óbitos ou a disponibilidade de leitos hospitalares – e isto já foi feito em alguns estados”.
Fracalossi afirma que a existência de tais parâmetros – incorporados em planos robustos de flexibilização – reduzem a probabilidade de que pressões contrárias às medidas de distanciamento influenciem o comportamento de governos, como observado no Amazonas. “A adoção de planos com parâmetros desse tipo é um instrumento essencial para o enfrentamento da pandemia neste momento, pois serão necessários vários meses até que parte substancial da população seja imunizada”, ressaltou. -Ipea
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