AGRONEGÓCIO

Levantamento mostra cenário do mercado do leite e derivados

Um levantamento feito pela Secretaria de Estado da Agricultura do Paraná, o segundo maior estado produtor de leite do Brasil, mostra a situação do mercado do leite e seus derivados. O aumento de preços de insumos elevou o custo de produção e, por consequência, os valores pagos aos produtores subiram mais de 50%, em média, este ano. Os consumidores sentem essa variação nas gôndolas dos supermercados.
Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), responsável pelo levantamento, entre os vários motivos está o aumento nos preços da soja e milho, principais componentes da ração fornecida aos animais. O trabalho demonstra que neste ano a elevação nos preços dos grãos, principais itens nos custos de produção da bovinocultura leiteira, é superior aos patamares pagos aos produtores.
No Paraná, só em 2020, o preço do leite subiu 51% em relação ao ano passado, reproduzindo um efeito cascata sobre o preço dos derivados como queijos, iogurtes e cremes para os consumidores. Já os custos de produção, subiram mais do que isso. A ração subiu 53%, pressionada pelo aumento no custo do farelo de soja que está 84% mais caro.
Segundo o técnico do Deral, Fábio Mezzadri, médico veterinário e autor do estudo, os produtores estão recorrendo ao aumento das receitas e melhoria da rentabilidade com o aumento no preço do leite para cobrir os custos elevados da soja e milho.
ESTIAGEM – Outros fatores contribuem para o aumento no preço do leite. Segundo o Deral, a estiagem atrasou o desenvolvimento das pastagens de inverno, e agora, prejudica o plantio e o desenvolvimento das forrageiras de verão, o que tem retardado a produção de alimentos para as vacas leiteiras, ocasionando queda na produção dos rebanhos, com consequente diminuição da oferta de leite no mercado.
Além disso, devido à pandemia e quarentena, com mais famílias em casa, o consumo se mantém aquecido no comércio varejista e há uma valorização do leite no mercado entre as indústrias. E também está havendo um acréscimo nas exportações de lácteos este ano.
PREÇOS –  De acordo com a pesquisa, a média estadual dos preços do leite recebidos pelos produtores em setembro de 2020 foi de R$1,97, ou seja, 49% superior ao mesmo mês de 2019, quando o valor recebido foi de R$ 1,32. De janeiro a setembro a alta foi de 46%, com preços passando de R$ 1,35, para R$ 1,97 o litro. Nesta primeira quinzena de outubro, os preços têm se mantido em alta. Ainda segundo o Deral, na semana entre os dias 05 a 09/10, a média do preço recebido pelo produtor por litro do leite foi de R$ 2,04, ou seja, 3,5% maior que a média de setembro (R$1,97).
CUSTOS – Em relação aos custos de produção, o Deral demonstra que no acumulado do ano de 2020 (janeiro a setembro), o preço da saca de soja (60kg) se elevou em 57%, passando de R$ 77,64 em janeiro, para R$ 122,11 em setembro. Na comparação de setembro de 2019 (R$ 73,54), a setembro de 2020 (R$ 122,11), a alta foi de 66%. “Portanto, altas maiores do que as observadas no valor do litro do leite pago aos produtores”, afirmou o veterinário.  Assim como a soja, foram observadas altas elevadas também no milho, outro importante insumo que faz parte da dieta do gado leiteiro.
Ainda segundo o Deral, na comparação do mês de setembro de 2019 e setembro de 2020 o acréscimo foi de 79% (alta superior a observada no valor do leite recebido no mesmo período), nos preços da saca de 60Kg, passando de R$ 28,09 para R$ 50,33 respectivamente. No acumulado do ano, (janeiro a setembro), a alta foi de 28%, passando de R$ 39,19 em janeiro/2020, para R$ 50,33 em setembro/2020.
OTIMISMO E CAUTELA – Apesar da crise, pandemia e estiagem, o atual momento é de otimismo e de recuperação da rentabilidade do setor leiteiro. Tem contribuído ainda para este cenário promissor, o crescimento das exportações de lácteos, que se elevaram este ano 25% em receita e 24% em volume no acumulado do ano (2020/janeiro a setembro), comparativamente a igual período de 2019.
Mas a análise do Deral é que o atual momento também pede cautela aos produtores. Segundo o veterinário Fábio Mezzadri, muitas empresas (laticínios) e assistentes técnicos, têm orientado os produtores a segurarem maiores investimentos neste período crítico. A orientação vale para investimentos que não são essenciais para as boas práticas de manejo, alimentação e sanidade, indispensáveis a uma produção de qualidade).
INCERTEZAS –  Segundo o técnico do Deral, o ano de 2020, tem sido bastante atípico para a atividade leiteira. Assim como outros setores do comércio e do agronegócio. “Já observamos neste período os preços pagos aos produtores e os preços no mercado varejista ora subindo e em outros momentos caindo. Por outro lado, empresas ora operando com estoques lotados e ora com dificuldades em encontrar matéria-prima”, destaca.
Em relação ao comércio, a partir do segundo semestre, a situação melhorou, muitas redes de restaurantes e lanchonetes “fast-food” que ainda permaneciam fechadas, ou em situação de instabilidade, tiveram permissão para reabrir, mesmo que ainda com algumas restrições devido a pandemia. Apesar de os produtores de leite estarem recebendo a mais pelo litro do produto, muitos ainda estão se recuperando financeiramente dos preços baixos praticados nos últimos anos. Cenário que ocasionou até o abandono da atividade por muitos produtores.   -AEN

 

Redação

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