Fatos que levaram a tomada do poder pelo Exército no Brasil em 1964
UM RESUMO DOS ACONTECIMENTOS A PARTIR DE 1960 NA POLÍTICA BRASILEIRA
Entre 1960 e 1964, o Brasil viveu uma sequência de crises políticas, econômicas e militares que desembocaram na derrubada do presidente João Goulart e na tomada do poder pelos militares em 31 de março de 1964. O processo combinou deterioração econômica, polarização ideológica em plena Guerra Fria, reorganização de movimentos sociais, quebra de hierarquias nas Forças Armadas e articulação de grupos civis e militares que defendiam a intervenção. E também havia a preocupação Norte Americana, onde a situação no Brasil era acompanhada com muita atenção.
A seguir, em ordem cronológica, veja os principais fatos apontados pela historiografia como degraus que levaram ao golpe de 1964.
E conheça os sites históricos citados em azul nesta página, que são links para as fontes dos dados. É só clicar nos títulos dos sites que estão em azul para achar mais informações.
1 – ELEIÇÃO DE JÂNIO QUADROS E JOÃO GOULART EM CHAPAS SEPARADAS (1960)
Nas eleições de 1960, Jânio Quadros é eleito presidente com um discurso moralizador e de combate à corrupção, apoiado por forças conservadoras, enquanto João Goulart, do PTB, é eleito vice-presidente em votação separada, amparado por setores trabalhistas e nacionalistas. A configuração produz um Executivo desde o início politicamente dividido e aumenta a desconfiança de parte da elite civil e militar em relação a Goulart, visto como herdeiro do varguismo e próximo da esquerda.
Fonte: Wikipédia
2 – CRISE DO GOVERNO JÂNIO E RENÚNCIA SURPREENDENTE (25 DE AGOSTO DE 1961)
No curto governo Jânio Quadros (1961), a combinação de medidas econômicas impopulares, estilo personalista e política externa independente — com aproximação de países socialistas — provoca choque com o Congresso e setores militares. Em 25 de agosto de 1961, Jânio renuncia de forma inesperada, alegando “forças terríveis” que o impediriam de governar. A renúncia abre uma crise sucessória, pois os ministros militares resistem à posse do vice João Goulart.
Fonte: Toda Matéria
3 – CAMPANHA DA LEGALIDADE E SAÍDA PARLAMENTARISTA PARA A POSSE DE JANGO (AGOSTO–SETEMBRO DE 1961)
Com Jango em viagem oficial à China, parte da cúpula militar tenta impedir sua posse. Em reação, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, lança a Campanha da Legalidade, mobilizando rádios, tropas do III Exército e opinião pública em defesa da sucessão constitucional. O impasse leva a um acordo político: Goulart assume a presidência em 7 de setembro de 1961, mas sob um regime parlamentarista que limita seus poderes. A solução garante temporariamente a legalidade, mas mantém a crise latente.
Fonte: Wikipédia
4 – AGRAVAMENTO DA CRISE ECONÔMICA E RADICALIZAÇÃO SOCIAL (1962)
Em 1962, o país enfrenta inflação alta, desequilíbrios nas contas externas e queda do crescimento. Greves operárias, mobilização de camponeses, avanço das Ligas Camponesas, do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e da União Nacional dos Estudantes (UNE) ampliam a pressão por reformas estruturais. Ao mesmo tempo, eleições legislativas renovam o Congresso com maior presença de forças de esquerda e nacionalistas, o que intensifica o confronto com setores conservadores.
Fonte: Brasil Escola
5 – PLEBISCITO DE 1963 E RESTABELECIMENTO DO PRESIDENCIALISMO (6 DE JANEIRO DE 1963)
Insatisfeito com a limitação de poderes, Goulart apoia a realização de um plebiscito para decidir entre parlamentarismo e presidencialismo. Em 6 de janeiro de 1963, a população vota massivamente pelo retorno do presidencialismo, devolvendo ao presidente plenos poderes constitucionais. A partir daí, Jango assume diretamente a condução da política econômica (Plano Trienal) e das chamadas reformas de base, acentuando o embate com a oposição no Congresso, com o empresariado e com parte da imprensa.
Fonte: Wikipédia
6 – ORGANIZAÇÃO DA OPOSIÇÃO CONSERVADORA CIVIL E ARTICULAÇÃO COM OS MILITARES (1962–1963)
No mesmo período, intensifica-se a articulação de grupos civis contrários ao governo, como o IPÊS e o IBAD, que reúnem empresários, banqueiros, políticos conservadores e intelectuais, financiando campanhas, propaganda anticomunista e estudos contra as reformas. Governadores da Guanabara (Carlos Lacerda), de São Paulo (Ademar de Barros) e de Minas Gerais (Magalhães Pinto) convergem em oposição frontal a Goulart. A conspiração encontra eco em setores das Forças Armadas e se insere no contexto da Guerra Fria, com preocupação dos Estados Unidos diante de uma agenda de reformas considerada radical.
Fonte: Atlas Histórico do Brasil
7 – CRISES NA HIERARQUIA MILITAR: MOVIMENTOS DE PRAÇAS E REVOLTA DOS SARGENTOS (1963)
A radicalização não atinge apenas civis. Nas Forças Armadas, cabos, sargentos e suboficiais passam a exigir direitos políticos e melhores condições de carreira. Em 12 de setembro de 1963, a Revolta dos Sargentos, em Brasília, leva militares de baixa patente a ocupar prédios públicos e deter autoridades após decisão do Supremo Tribunal Federal que confirmara sua inelegibilidade para cargos legislativos. O episódio é duramente criticado pelo oficialato e visto como sinal de desagregação da disciplina militar, reforçando entre muitos oficiais a percepção de que o governo Jango não controlava a tropa.
Fonte: Wikipédia
8 – NOMEAÇÃO DE CASTELO BRANCO E AVANÇO DA CONSPIRAÇÃO MILITAR (1963)
Em 1963, o general Humberto de Castelo Branco é nomeado chefe do Estado-Maior do Exército. Figura respeitada entre oficiais, ele se torna um dos articuladores centrais do movimento que derrubaria Goulart. Paralelamente, cresce a coordenação entre comandos militares, governadores de oposição, setores empresariais e frações da Igreja Católica em torno da ideia de uma “intervenção salvadora” contra o que chamavam de “ameaça comunista”.
Fonte: Wikipédia
9 – COMÍCIO DA CENTRAL DO BRASIL E DECRETOS DAS REFORMAS DE BASE (13 DE MARÇO DE 1964)
Em 13 de março de 1964, Goulart realiza um grande comício na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, diante de centenas de milhares de pessoas. No ato, defende abertamente as reformas de base — agrária, urbana, educacional e tributária — e anuncia decretos que autorizam a desapropriação de terras ao longo de rodovias, ferrovias e barragens e a encampação de refinarias de petróleo privadas. O comício é interpretado por opositores como sinal de radicalização à esquerda do governo e usado como prova de que o país caminharia para uma “república sindicalista”.
Fonte: Memórias da Ditadura
10 – MARCHAS DA FAMÍLIA COM DEUS PELA LIBERDADE (A PARTIR DE 19 DE MARÇO DE 1964)
Em resposta direta ao comício e aos decretos de Goulart, setores católicos, empresários, políticos conservadores e parte da classe média organizam a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A primeira grande manifestação ocorre em São Paulo, em 19 de março de 1964, reunindo centenas de milhares de pessoas. Marchas semelhantes acontecem depois em outras capitais. Esses atos funcionam como demonstrações públicas de apoio à intervenção militar e de repúdio ao governo, conferindo legitimidade social à conspiração em curso.
Fonte: Wikipédia
11 – REVOLTA DOS MARINHEIROS E ANISTIA CONCEDIDA POR Goulart (25–27 DE MARÇO DE 1964)
Na semana anterior ao golpe, a crise militar atinge novo patamar. Entre 25 e 27 de março, a Revolta dos Marinheiros, no Rio de Janeiro, reúne cerca de dois mil marinheiros e fuzileiros navais no Sindicato dos Metalúrgicos, em desafio à proibição do Ministério da Marinha. O conflito termina com negociação e, posteriormente, com anistia concedida por Goulart aos insubordinados. Para muitos oficiais da Marinha e do Exército, a decisão do presidente é vista como afronta à hierarquia e prova de que o governo apoiaria movimentos “subversivos” nas Forças Armadas, tornando-se um dos estopins imediatos da deflagração do golpe.
Fonte: Atlas Histórico do Brasil
12 – DEFLAGRAÇÃO DO MOVIMENTO MILITAR E QUEDA DE JOÃO GOULART (31 DE MARÇO – 1.º DE ABRIL DE 1964)
Na noite de 31 de março de 1964, tropas sob o comando do general Olímpio Mourão Filho saem de Juiz de Fora (MG) em direção ao Rio de Janeiro, antecipando o cronograma da conspiração. Governadores como Magalhães Pinto, Carlos Lacerda e Ademar de Barros declaram apoio ao movimento, assim como comandos de Exército em diferentes regiões. Os Estados Unidos mobilizam a Operação Brother Sam para apoiar os golpistas, se necessário. Sem apoio militar suficiente para resistir, Goulart deixa Brasília, segue para Porto Alegre e depois para o exílio no Uruguai. Em 2 de abril, o Congresso declara vaga a presidência, e, em 15 de abril, o general Castelo Branco assume o governo, consolidando a tomada de poder pelos militares e o início da ditadura de 1964–1985.
Fonte: Brasil Escola e Atlas Histórico do Brasil
Esses fatos, encadeados, compõem o quadro histórico que levou à intervenção de 1964: um processo gradual de erosão da legitimidade do governo, de polarização social e de crescente convergência entre oposição civil e setores militares em torno da derrubada do presidente João Goulart.
– Portal Memória Brasileira

