Economia deve engrenar em 2020, segundo economista da LCA
Aposta vem da expectativa de retomada do consumo e do crédito
A recuperação da economia nacional não atingiu os índices desejados em 2019, mas passos importantes, como a reforma da Previdência, foram dados. Por outro lado, o ano também foi marcado por fatos internacionais que impactaram diretamente a economia do Brasil, como o acirramento da crise entre Estados Unidos e China, o Brexit e o alerta do coronavírus.
Diante desse cenário, o que esperar para 2020? “A notícia boa é que uma trégua entre os americanos e os chineses foi selada. Depois de um quadro que mostrava uma escalada de tarifas, a queda do comércio mundial, por enquanto, está estancada”. A análise é da economista Thaís Zara, responsável pela conjuntura da economia internacional e mercado financeiro na LCA Consultores. Em palestra na CNT (Confederação Nacional do Transporte), ela afirmou que as taxas de crescimento estão se estabilizando e um quadro de recessão mundial, por enquanto, parece afastado.
Com um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) mundial projetado em 3,1% para 2020 e 3,5% para 2021, a economista acredita que, apesar da trégua entre americanos e chineses, a questão do coronavírus pode impactar os números mundiais, e os reflexos devem ser sentidos no primeiro trimestre. “O sistema de transporte e a economia da China estão parados, e isso irá se refletir no varejo e na indústria. O impacto virá no primeiro trimestre e deverá ser mitigado no segundo, com uma compensação no terceiro e quarto trimestres. No entanto, é importante ter em mente que o PIB chinês já foi revisto de 5,9% para 5,5% neste ano.”
Outro impacto trazido pelo coronavírus é que os chineses produzem insumo para todo o mundo — no caso do Brasil, 31,4% dos insumos vêm da China, e 50% do que exportamos faz o caminho contrário. “A importação de insumos será mais afetada no primeiro momento. Com portos parados e fábricas fechadas, toda a cadeia global será impactada por essa quarentena. No Brasil, as exportações de commodities, petróleo, minério de ferro, alimento e agricultura serão afetadas”, explica Thaís.
No mercado interno, com uma projeção de crescimento de 2% do PIB e cotação do dólar prevista para encerrar o ano na casa dos R$ 4, a percepção é que o cenário está melhor, tanto que já existe uma retomada do consumo e do crédito. O setor de serviços mostra recuperação, e o comércio está próximo de voltar ao seu pico pré-crise. Além disso, a expectativa é que sejam feitos ajustes importantes na máquina federal, como a votação da PEC da Emergência Fiscal e a reforma administrativa. “A aposta para um PIB maior vem da expectativa de retomada do consumo, do crédito e do mercado de trabalho; e ainda temos uma recuperação da construção civil e dos bens de capital”.
Concessões
Na palestra, Thaís Zara também analisou as carteiras de concessões previstas na agenda do governo federal para 2020. A expectativa é que sejam realizados leilões de até 44 ativos de infraestrutura. “Deveríamos ter uma aceleração nos projetos de concessão”, avalia ela, considerando que a maioria deles ainda está em fase de estudos; outros, em fase de audiência pública; alguns, em aprovação do TCU (Tribunal de Contas da União); e nenhum, na fase de edital.
De acordo com Thaís, outro fato preocupante é que a modelagem ainda não está definida e está sendo criada uma grande diversidade de regras para uma mesma agência gerir. “Do ponto de vista do investidor estrangeiro, isso dificulta bastante porque ele demora a entender as regras e existem as peculiaridades de cada caso. Para a agência, é um grande desafio ter que lidar com regras diferentes ao mesmo tempo. Ainda estamos em busca do melhor modelo”, finaliza ela.
CNT