Confiança do Agronegócio encerrou 1º trimestre otimista
O agronegócio brasileiro começou 2019 sustentando o ânimo em alta. O Índice de Confiança (IC-Agro) do setor fechou o 1º trimestre em 111,9 pontos. Esse é o segundo melhor resultado da série histórica, apesar do recuo de 3,9 pontos em relação ao recorde do 4º trimestre de 2018, que registrou 115,8 pontos.
De acordo com a metodologia do estudo, há otimismo quando o indicador está acima de 100 pontos – abaixo dessa marca, o ambiente é pessimista. O IC Agro é um indicador medido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
O entusiasmo persiste principalmente devido aos produtores, que se mantêm confiantes com as condições gerais da economia brasileira, apesar das dificuldades iniciais do novo governo em levar adiante reformas importantes como a da Previdência. O fato é que o agronegócio é tema frequente, com abordagem quase sempre positiva nas manifestações do presidente e dos ministros, com alguns avanços em áreas relevantes. “Iniciativas na infraestrutura por meio da concessão de investimentos para a iniciativa privada, além de posicionamentos da área ambiental que reconhecem os avanços conquistados pelo setor, são exemplos que dão sustentação à percepção positiva”, avalia Roberto Betancourt, diretor-titular do departamento do agronegócio da Fiesp.
O otimismo permeou também o ambiente das indústrias ligadas às cadeias agropecuárias, levando o Índice de Confiança da Indústria (Antes e Depois da Porteira), a marcar 113,6 pontos no 1º trimestre do ano. Mesmo com o bom resultado, houve queda de 3,7 pontos em relação ao trimestre anterior, fruto de um recuo nas expectativas relacionadas às condições da economia brasileira.
Essa retração foi mais intensa para as indústrias situadas a montante do setor agropecuário. No entanto, apesar do recuo de 7,7 pontos, o Índice de Confiança das Indústrias situadas Antes da Porteira, fechou o período avaliado em 115,2 pontos, e se mantém na faixa considerada otimista. “A queda se deve, em parte, ao avanço lento das vendas de insumos agropecuários para a próxima safra de verão nas regiões onde a negociação costuma ocorrer com maior antecipação, como o Centro-Oeste e o Mapitoba. Com as relações de troca dos insumos em níveis desfavoráveis, os produtores rurais mostraram pouca disposição para fechar as compras”, observa Márcio Lopes de Freitas, presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
Já o bom desempenho de setores como o de máquinas e equipamentos agrícolas no 1º trimestre ajudou a sustentar o otimismo desse resultado: segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas de máquinas agrícolas no mercado interno nos três primeiros meses de 2019, em comparação com o mesmo período de 2018, subiram 21%, desempenho puxado pelas vendas de colheitadeiras de grãos (+58%).
O Índice de Confiança da Indústria Depois da Porteira se manteve mais estável em relação ao trimestre anterior. O indicador marcou 112,9 pontos, uma queda de apenas 2 pontos. Os ânimos esfriaram um pouco em relação às condições atuais da economia – algo até natural, tendo em vista o forte otimismo demonstrado no final do ano passado. Observa-se, no entanto, um descolamento quanto às expectativas para os próximos meses, mais positivas, a partir da crença na aprovação de reformas, como a previdenciária. “É bom lembrar também que há nesse grupo a participação dos frigoríficos, que estão sendo beneficiados pela reabertura de mercados e pela perspectiva de aumento nas exportações devido ao avanço dos casos de Febre Suína Africana na China, em um momento em que o câmbio é favorável à exportação e se espera uma segunda safra recorde de milho, fator que também estimula o otimismo entre as empresas de logística”, explica Betancourt.
Quanto ao setor agropecuário, os produtores rurais continuaram mostrando entusiasmo com a economia brasileira, o que fez o Índice de Confiança desse grupo permanecer na faixa considerada otimista pelo estudo, em 109,5 pontos — apesar da queda de 4,3 pontos sobre o último trimestre do ano passado. Os ânimos esfriaram um pouco principalmente por questões relacionadas às condições do negócio, como o crédito e a produtividade.
Entre os produtores agrícolas, o primeiro trimestre do ano fechou com expectativas mais moderadas do que no fim de 2018, mas ainda bastante otimistas. Seu Índice de Confiança foi de 110,7 pontos, 4,6 pontos a menos do que no levantamento anterior. “Um dos aspectos que contribuíram para esse recuo foi a produtividade das lavouras de soja, que não repetiram os recordes da safra passada, principalmente em regiões afetadas pela seca do início do ano, como o Oeste do Paraná e o Sul do Mato Grosso do Sul”, aponta Freitas. A avaliação sobre o crédito foi outro item que teve retração acentuada em relação ao trimestre anterior: “a queda de 19% no volume de recursos liberado para o pré-custeio agrícola influenciou de forma negativa os ânimos dos produtores. Em termos de cultura, destaca-se a redução no volume de recursos da soja (-35%), cana-de-açúcar (-13%) e milho (-12%)”, complementou Freitas.
É importante notar que as entrevistas para o estudo foram realizadas em um momento em que os preços aos produtores ainda não haviam recuado com a intensidade que ocorreu em abril. Além disso, na época, muitos agricultores sustentavam uma expectativa de que os custos com insumos poderiam melhorar ao longo do ano, mas isso até agora não aconteceu. Esses dois aspectos – preços em queda e custos em alta – poderão ser destaques no relatório do 2º trimestre.
Entre os pecuaristas, a confiança chegou a 106,1 pontos, queda de 3,5 pontos. Apesar do recuo, é a primeira vez em que o indicador dos pecuaristas se mantém na faixa considerada otimista por dois trimestres consecutivos. Essa ligeira perda de confiança foi em parte compensada por uma melhora relativa dos ânimos em áreas que não vinham tão bem avaliadas nos trimestres anteriores. Uma delas diz respeito aos preços, que de fato se mantiveram em níveis um pouco melhores do que em períodos recentes, especialmente no caso do leite, cujo preço bruto médio pago ao produtor foi 30% maior no primeiro trimestre de 2019, em comparação à idêntico período do ano anterior, segundo dados do Cepea/Esalq-USP.
OCB