Além de educar e punir, a fiscalização de trânsito também deveria premiar os motoristas conscientes
Artigo de Marcos Elias Traad da Silva, que foi Diretor Geral do Detran do Paraná por duas gestões e ex-Presidente da Associação Nacional dos Detran (AND)
Estamos na “Semana Nacional de Trânsito”, época em que começam muitas campanhas para advertir sobre as responsabilidades éticas na direção. E há o consenso de que os acidentes de trânsito no Brasil ultrapassam, em muito, a fronteira do admissível, ainda que alguns avanços tenham sido obtidos na última década.
Teoricamente, aparecem como fatores preponderantes de avanço, o aumento da fiscalização, as campanhas de educação para o trânsito e a melhoria das condições de infraestrutura nas rodovias e cidades.
De fato, quando se dá a devida atenção para a maior segurança viária, a referência se resume ao famoso tripé do trânsito: educação, esforço legal e engenharia de tráfego. São três intervenções muito importantes. E quando realizadas de forma coordenada, com a garantia de investimentos contínuos pelo poder público, e com a formação de redes de parcerias com a sociedade organizada, salvam muitas vidas.
Estamos, no entanto, passando por momentos conflitantes sobre o real papel dos governos no trânsito, principalmente quanto ao esforço legal, onde estão concentradas as ações de fiscalização.
Será concebível que tenhamos agora a redução da fiscalização por excesso de velocidade, por exemplo? Devemos continuar acreditando que é possível obter habilidades para conduzir veículos de diferentes categorias, oferecendo uma menor carga horária prática? E vamos continuar aceitando que as habilidades para motociclistas, obtidas em pistas de treinamento fechadas e padronizadas, serão suficientes para preservar as suas vidas no trânsito?
Enfim, há espaço para uma ampla abordagem sobre o assunto, sob diferentes aspectos. E é preciso insistir na busca de investimentos para isso.
Mesmo com os esforços para reduzir acidentes, através de instituições públicas ou não, é importante ressaltar que existe a necessidade de realizar ações continuadas. E não apenas em momentos específicos, como no caso da “Semana do Trânsito”.
Para isso deve haver uma coordenação central, com as devidas ramificações no território nacional, em um amplo projeto que envolva os cidadãos, para que sejam mais respeitosos no trânsito. Também é fundamental que haja a mobilização de recursos financeiros suficientes. E que as atividades educacionais e de orientação, devam ter enfoque especial (aliás, como determina o próprio Código de Trânsito Brasileiro).
Sabemos que através da educação é possível mudar a sociedade. É necessário, contudo, que sejam feitos os aportes financeiros condizentes com esta missão fundamental de realmente reverter tamanho absurdo, que é a fatalidade no trânsito.
As boas atitudes de motoristas e demais envolvidos com o trânsito devem ser aplaudidas, mesmo que tenham que ser encaradas como um dever de todos. Mas passou da hora de promover o reforço positivo: Um exemplo seria com os motoristas de conduta ilibada, que poderiam ter esta qualidade identificada em seu prontuário da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Com isso o motorista de atitudes corretas, vai se sentir prestigiado, obtendo uma abordagem de fiscalização diferente. E com certeza ele poderá fazer parte desta enorme rede do bem, a ser formada em benefício da coletividade.
Não há dúvida de que todos precisam continuar sendo observados e advertidos pelo que cometem de errado no trânsito. Por este motivo, a fiscalização deve ser feita de forma técnica e efetiva. E também é preciso realizar mais atividades contínuas de educação para o trânsito. Mas a fiscalização não deveria prosseguir da mesma forma. Ela poderia concluir o bom ciclo do processo educacional, tendo sempre o cuidado de premiar a boa conduta.
Marcos Traad