Muitas imobiliárias desrespeitam a quem sustenta o negócio
Dr. Estevão Klementz Jr
Há um paradoxo incômodo no mercado imobiliário brasileiro. Quem paga, frequentemente, é quem menos merece atenção. Enquanto os proprietários de imóveis são tratados como parceiros valiosos, recebendo deferência e cordialidade, os inquilinos — que garantem, com seus pagamentos, a existência da própria atividade das imobiliárias — ainda convivem com mensagens ríspidas, descaso e, não raro, atitudes de claro desrespeito.
É compreensível que as empresas tenham a necessidade de preservar a relação com os donos dos imóveis, pois sem eles não haveria o produto a ser ofertado. Mas não se pode ignorar que a receita que sustenta o setor vem do bolso dos clientes que alugam. A conta é simples: sem inquilino, não há aluguel; sem aluguel, não há comissão; e sem comissão, não há imobiliária.
O curioso é que, em vez de enxergar no cliente uma parte essencial do ciclo, muitas empresas preferem tratá-lo como um problema, como alguém a ser vigiado ou tolerado. O resultado é uma relação fria, burocrática e frequentemente hostil, que distancia o consumidor e reforça a imagem de que o setor carece de empatia.
Esse comportamento revela uma falha de visão. O respeito, a escuta atenta e a comunicação clara não deveriam ser diferenciais, mas sim a base de qualquer negócio que pretenda ser saudável e duradouro. Em um mercado cada vez mais competitivo, não há espaço para o desprezo ao cliente. O consumidor de hoje cobra posturas de civilidade, e quem não compreende isso corre o risco de perder relevância.
O caminho de mudança passa por uma revisão cultural. É preciso entender que o cliente não é apenas um ocupante temporário, mas parte essencial do negócio imobiliário. Tratar com respeito quem paga a conta é, antes de tudo, um exercício de justiça e bom senso. E é também um investimento na própria sobrevivência das empresas, que só se manterão fortes se cultivarem relações mais equilibradas, humanas e respeitosas.
No fim das contas, não se trata de escolher entre proprietário ou inquilino. Trata-se de reconhecer que ambos são fundamentais. E que sem civilidade com o cliente, nenhum mercado se sustenta.