Conciliar produção agrícola e conservação foi tema de seminário internacional
Possibilidades para uma economia rural sustentável foram debatidas por diversos setores no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
O Brasil é responsável por alimentar cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo. O uso da terra no país é uma preocupação global, tanto do ponto de vista da segurança alimentar, quanto da contribuição brasileira na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Mas especialistas garantem: é possível conciliar produção agrícola com conservação ambiental.
O tema foi debatido nos últimos dois dias por pesquisadores, organismos multilaterais e representantes de governo e do setor financeiro no seminário Internacional Oportunidades de Negócios para uma Economia Rural Sustentável: A Contribuição das Florestas e da Agricultura, promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (IPC-IG/PNUD) e o Environmental Defense Fund (EDF).
Estudos apresentados durante o seminário indicam que o Brasil possui 51% de terras de floresta intacta; 19% de pastagens em boas condições; 13% de reservas legais e áreas de proteção permanente; 9% de terras destinadas à agricultura, 4% para cidades, estradas, cursos d’água e outros usos; 3% de áreas na Amazônia em regeneração; e 1% de pastagens degradadas. Na área produtiva, 60% se destinam à pastagem, em detrimento de outros usos possíveis, como a agricultura.
Para o economista-chefe de Recursos Naturais do EDF, Ruben Lubowski, a única forma de resolver os problemas ambientais no mundo de forma durável é alinhando a agenda ambiental com o desenvolvimento econômico e a prosperidade. “Precisamos fazer integração de políticas, com uma leitura mais aprofundada do meio ambiente, sobretudo para quem estuda desenvolvimento regional”, pontuou o diretor de Estudos Regionais, Urbanos e Ambientais do Ipea, Aristides Monteiro.
No primeiro dia do evento, as discussões envolveram o futuro da economia rural no país e a criação de um mercado de carbono, com interesse de alguns setores em compensar suas emissões – recentemente a empresa Shell destinou U$ 300 bilhões a um fundo para compensar suas emissões – também foram debatidas possibilidades para construir cadeias produtivas sustentáveis em larga escala e caminhos para ampliar as oportunidades de investimentos multilaterais.
O Código Florestal abriu o segundo dia de debate, complementarmente às discussões sobre os mecanismos de financiamento existentes no Brasil e os impactos biofísicos da proteção florestal na agricultura. “Não faz sentido continuar desmatando, tanto do ponto de vista comercial, como para os próprios interesses dos produtores rurais”, defendeu André Guimarães, da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, ressaltando a necessidade da plena implementação do Código Florestal aprovado em 2012. “Temos que fazer uma grande ‘consertação’ no país, justamente por termos estatura e capacidade de inserção internacional, para liderarmos uma agenda global do clima”, destacou.
IPEA